Óleo de cozinha usado: como as Prefeituras podem transformar um problema ambiental em solução econômica para o município

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Nova Lima (MG) e São Bernardo do Campo (SP) transformaram óleo usado em economia circular e reconhecimento internacional

O marco legal que ampara essa iniciativa

Desde a promulgação da Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), ficou claro que o óleo de cozinha usado deve ter destinação ambientalmente adequada, com responsabilidade compartilhada entre geradores, poder público e operadores, conforme diretrizes da PNRS e regulamentações estaduais e municipais complementares.

O que muitos gestores públicos ainda não perceberam é que a lei não os obriga a arcar sozinhos com todos os custos. Pelo contrário, ela incentiva parcerias com o setor privado através de instrumentos jurídicos bem definidos.

Instrumentos jurídicos disponíveis

Termos de Parceria Público-Privada

Amparados pela Lei nº 11.079/2004, esses termos permitem que empresas especializadas instalem e operem pontos de coleta em equipamentos públicos, desde que respeitadas as normas ambientais locais e firmado instrumento jurídico válido com o município, como PPP, convênio ou termo de cooperação.

Convênios e Cooperação Técnica com Associações ou Cooperativas

Regidos pela Lei nº 13.019/2014, que estabelece o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), esses convênios facilitam a integração com catadores organizados e entidades sociais.

Consórcios Públicos

Previstos na Lei nº 11.107/2005, permitem que municípios se unam para viabilizar soluções conjuntas para coleta, tratamento e destinação de resíduos, inclusive o óleo usado.

Acordos Setoriais com o Comércio e Indústria

São instrumentos previstos na própria PNRS para viabilizar a corresponsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos. Podem incluir padarias, restaurantes, supermercados e condomínios como pontos de entrega voluntária.

Essas ferramentas já existem e são legais, legítimas e replicáveis. O que falta, na maioria dos casos, é articulação política e vontade administrativa.

O modelo Nova Lima: um case de sucesso replicável

A Prefeitura de Nova Lima, em parceria com a empresa Óleo Verde Resíduos, implementou um sistema que já conta com 30 ecopontos distribuídos estrategicamente pela cidade. O modelo é simples, eficiente e pode ser replicado por qualquer município.

Foto: Lucas Mendes / Prefeitura de Nova Lima – Divulgação

Como funciona na prática

Instalação: Ecopontos (coletores grandes em formato de garrafas PET identificadas) com capacidade para 200 litros cada.

Coleta: Semanalmente, a empresa parceira recolhe o material.

Processamento: O óleo é transformado em biodiesel, sabão e detergentes.

Investimento para o município: Zero em recursos financeiros diretos, desde que o município viabilize a infraestrutura mínima e articule a parceria. O resíduo tem valor comercial, o que pode permitir às empresas parceiras absorverem os custos operacionais, desde que o município viabilize a infraestrutura mínima e formalize os acordos conforme previsto em legislação.

Locais estratégicos dos ecopontos

O segredo do sucesso está na localização estratégica dos pontos de coleta, o que facilita o acesso da população e aumenta a adesão espontânea:

  • Equipamentos públicos: regionais administrativas, sede da prefeitura, escolas municipais e centros de atendimento ao cidadão
  • Centros comerciais: como o Serena Mall, com grande fluxo diário
  • Instituições comunitárias: igrejas, creches, associações de bairro
  • Condomínios e loteamentos fechados: por meio de parcerias com síndicos e administradoras

Essa diversidade de locais garante capilaridade, praticidade e visibilidade ao programa, facilitando o engajamento da população.

Os benefícios que vão além do meio ambiente

A gestão adequada do óleo de cozinha usado não apenas protege os recursos hídricos, como também oferece vantagens econômicas, sociais e institucionais para os municípios. Veja os impactos concretos:

1. Redução de custos operacionais

  • Menor frequência de manutenção em redes de esgoto entupidas por óleo
  • Redução nos custos de tratamento de efluentes nas estações de esgoto
  • Diminuição de problemas de transbordamento de caixas de gordura e contaminação do solo
  • Redução de enchentes e deslizamentos de terra provocados pelo acúmulo de óleo que impermeabiliza o solo

2. Geração de oportunidades econômicas

  • Criação de empregos indiretos nas etapas de coleta, transporte e processamento
  • Integração de cooperativas de catadores, que podem atuar como agentes de coleta e triagem
  • Estímulo à economia circular, com reaproveitamento local de resíduos antes considerados inúteis

3. Melhoria de indicadores ambientais

  • Redução da contaminação de corpos d’água superficiais e subterrâneos
  • Diminuição da dependência de combustíveis fósseis, com a produção de biodiesel
  • Contribuição direta para o cumprimento das metas de sustentabilidade exigidas por legislações nacionais e acordos internacionais

4. Fortalecimento da imagem institucional

  • Demonstração concreta de responsabilidade ambiental por parte da gestão pública
  • Engajamento da população em práticas sustentáveis e educativas
  • Cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com respaldo técnico e jurídico

O exemplo de São Bernardo do Campo: recorde mundial e lição de política pública

Outro caso emblemático que comprova o potencial da gestão correta do óleo usado vem de São Bernardo do Campo (SP). A cidade não apenas estruturou um programa consistente, como foi reconhecida internacionalmente pelo Guinness Book como a maior arrecadadora de óleo usado no mundo, título conquistado novamente em 2022.

Com o programa “Eco Óleo 2022”, São Bernardo demonstrou como a articulação entre poder público e políticas ambientais pode gerar resultados expressivos. Em apenas um mês, foram coletados mais de 55 mil litros de óleo (volume estimado), evidenciando a adesão da população e a eficiência da coleta. O prefeito Orlando Morando recebeu uma placa oficial do Guinness pelo feito.

O sucesso da iniciativa se deve, em parte, à conscientização sobre os impactos ambientais: o descarte incorreto do óleo compromete diretamente os mananciais da região, como a represa Billings, e representa um risco grave à saúde pública e à infraestrutura de saneamento.

Mais do que reduzir passivos, o município demonstrou que o óleo usado, quando corretamente classificado e destinado, possui valor agregado ambiental, social e econômico. A maior parte do material arrecadado foi reaproveitada na produção de sabão, cimento e ração animal, reafirmando o papel do resíduo como matéria-prima estratégica. Como resume uma das falas do programa: “Pessoas não têm a menor ideia que o óleo usado tem valor agregado.”

A lição de São Bernardo é clara: políticas ambientais funcionam quando há prioridade institucional, engajamento da sociedade e visão estratégica. O que parece apenas uma questão sanitária é, na verdade, um vetor de desenvolvimento ambiental, social e econômico.

Por que muitas prefeituras ainda não se mobilizaram?

Apesar das vantagens evidentes e da base legal já consolidada, a maioria dos municípios brasileiros ainda não implementou programas de coleta de óleo de cozinha usado. Os motivos mais recorrentes incluem:

1. Falta de conhecimento técnico e normativo

Boa parte dos gestores públicos desconhece que o óleo de cozinha usado é enquadrado como resíduo sólido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) e pode estar sujeito à logística reversa, desde que previsto em regulamentações estaduais, municipais ou acordos setoriais específicos. Em determinadas localidades, normas técnicas como a ABNT NBR 10.004 permitem que o óleo seja classificado como resíduo perigoso (Classe I), o que impõe exigências adicionais de coleta, transporte e destinação ambientalmente adequada. Além disso, muitos desconhecem os instrumentos legais existentes para formalizar parcerias com o setor privado ou organizações sociais, evitando custos diretos ao orçamento municipal.

2. Ausência de articulação com o setor privado

Embora existam empresas e organizações sociais aptas e dispostas a atuar, os municípios raramente estabelecem os canais institucionais necessários para formalizar as parcerias. Faltam editais, termos de referência, convênios e chamadas públicas.

3. Desvalorização da educação ambiental

A gestão de resíduos ainda é tratada como uma obrigação operacional, em vez de ser reconhecida como uma ferramenta estratégica de mobilização cidadã e desenvolvimento sustentável. Sem campanhas educativas e políticas de longo prazo, os programas não ganham tração popular.

Implementação passo a passo: o roteiro para a prefeitura da sua cidade

Para qualquer gestor público que deseje tirar o projeto do papel, o caminho pode ser trilhado em quatro fases simples e bem definidas, com resultados mensuráveis a cada etapa:

Fase 1: Diagnóstico (até 30 dias)

  • Levantamento da quantidade de óleo descartado irregularmente
  • Mapeamento dos principais geradores de resíduo (restaurantes, escolas, residências)
  • Identificação dos custos atuais com manutenção de redes e estações de tratamento

Fase 2: Estruturação da parceria (até 60 dias)

  • Pesquisa e seleção de empresas especializadas na coleta e processamento
  • Elaboração de termo de parceria, convênio ou edital de chamamento público
  • Definição dos pontos estratégicos para instalação dos primeiros ecopontos

Fase 3: Implementação (até 90 dias)

  • Instalação física dos ecopontos com identificação visual clara
  • Lançamento de uma campanha de conscientização local (rádio, redes sociais, escolas)
  • Treinamento das equipes responsáveis pelo acompanhamento e interlocução com a empresa parceira

Fase 4: Monitoramento e expansão (contínuo)

  • Acompanhamento dos volumes coletados e processados
  • Avaliação dos impactos ambientais, econômicos e sociais
  • Expansão gradual da rede, com inclusão de novos bairros, instituições e parcerias locais

Esse roteiro pode ser ajustado à realidade de cada município, mas sua essência permanece: planejamento, articulação e acompanhamento contínuo são os pilares do sucesso.

Parcerias que já estão funcionando

O caso de Nova Lima mostra que a colaboração entre poder público e iniciativa privada não apenas é possível, como já está dando certo. A empresa parceira, Óleo Verde Resíduos, oferece um modelo replicável que pode ser customizado para qualquer município brasileiro. Veja o que normalmente compõe a parceria:

  • Fornecimento de equipamentos: coletores, bombonas, faixas, placas e materiais de sinalização
  • Logística de coleta regular, com cronograma pré-definido e rastreabilidade
  • Processamento responsável: transformação do óleo em produtos como biodiesel, sabão ecológico e detergentes biodegradáveis
  • Relatórios técnicos periódicos, com prestação de contas, volumes coletados e destinos dados ao resíduo

Esse modelo demonstra que, com transparência, regularidade e comunicação ativa, o serviço não só funciona, como se torna símbolo de inovação urbana e cuidado ambiental.

A oportunidade não pode mais ser desperdiçada

O óleo de cozinha usado representa uma tríplice oportunidade para os municípios brasileiros:

  • Ambiental, pela preservação da água e do solo
  • Econômica, pela redução de custos e geração de empregos
  • Social, pela inclusão produtiva e educação ambiental

Enquanto algumas cidades já colhem os frutos dessa gestão inteligente, outras continuam desperdiçando recursos públicos para lidar com um problema que poderia ser uma solução circular.

A diferença está em quem escolhe agir.

O próximo passo é seu

Se você é gestor público, agente ambiental ou cidadão consciente, a oportunidade está à sua frente. Não é mais uma questão de “se” sua cidade vai implementar a gestão adequada do óleo de cozinha usado. A única pergunta que resta é: quando?

A sustentabilidade urbana e a economia circular não dependem de grandes discursos. Elas começam por decisões práticas, simples e viáveis como essa. E o momento de decidir é agora.

Para mais informações, entre em contato com a Óleo Verde e saiba mais sobre o projeto de reciclagem de óleo de cozinha. Chame no WhatsApp 31 99551-8191 ou clique aqui

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